23 novembro 2008

da finitude...


Quis escrever um novo post sobre o mesmo assunto que o anterior, mas desta vez com minhas próprias palavras porque este é um tema que, de algum tempo pra cá, tem me intrigado muito.

A vida tem me empurrado para conclusões estranhas sobre ela mesma. Tenho me surpreendido muito com as contradições a que se submetem nossas idéias para alcançar algum amadurecimento.
Tantas vezes temos que rever conceitos, desdizer ditos, mudar pontos de vista… é como se o aprendizado exigisse que experimentássemos vários pontos de vista na ânsia de encontrar uma verdade absoluta, mas no final descobríssemos que a verdade é a soma de todas as coisas.
Isso é arriscado porque tendemos a não nos envolver com afirmações e a duvidar de tudo.

E o tema do post anterior, eternidade, mexe mesmo comigo me fazendo rever antigos conceitos sobre vida e morte e sobre o valor das coisas.
Concordo com Clarice quando associa a eternidade com o sabor do chiclete que se acaba. Clarice sempre questiona, indiretamente, o que é realmente felicidade.
E no meu ver, todas estas coisas estão interligadas.

Acredito mesmo que a finitude das coisas é o que verdadeiramente lhes atribue valor. E a felicidade é um estado passageiro.
Somos incompletos, insatisfeitos e dinâmicos, e é esta insatisfação que nos mobiliza.

A vida é essa montanha russa, que ora nos coloca lá em cima gozando da maior felicidade, e ora nos põe pra baixo e nos faz querer desesperadamente subir novamente, e para isso, empreender esforços, produzir, mobilizar-nos, até que novamente se alcance o topo...
Clarice se pergunta "... queria saber: depois que se é feliz o que acontece? O que vem depois?"

Nossa maior constatação de incompletude é o próprio amor. Ama-se justamente porque é impossível ser feliz por si só. Amar é buscar no outro a resposta da própria angústia.
E um bom relacionamento é aquele desobrigado. Onde não haja garantias de eternidade ou felicidade. E isto é tão verdade que tiveram que inventar dois juramentos para uniões religiosas "na alegria e na tristeza" e "até que a morte nos separe".

Sei que estou misturando as coisas, mas é que para mim elas estão juntas realmente.
Eternidade, assim como felicidade absoluta seriam a maior desgraça dos seres humanos, por mais estranho que isso possa parecer. Viver não teria o menor sentido.
É a finitude das coisas que lhes empresta "eternidade" e valor.
A maior dificuldade está em conseguir enxergar neste vazio a própria plenitude.

Em
"da eternidade das coisas findas" , uma postagem antiga, tentei expressar algumas idéias sobre o papel da morte como fundamental para o sentido da vida. Nela quis ressaltar o tempo como resultado da própria finitude dizendo que esta nos coloca diante de um futuro incerto e valioso. Também citei a ausência (morte) como constituinte da própria vida, já que penso que parte da personalidade se cria na tentativa de nos eternizarmos através de nossos feitos. E ao fim, incluí uma frase que, pra mim faz todo sentido neste (con)texto: "Eternos são aqueles que se sabem mortais!"

De lá pra cá me questionei algumas vezes sobre até que ponto essas afirmações eram mesmo válidas para mim. E de tanto pensar à respeito, percebi que minha própria vida estava sendo afetada por estas reflexões.
Tornar-se totalmente consciente da própria finitude é praticamente impossível. Freud já dizia que o inconsciente não "admite" o próprio fim. Mas, me aproximar destas questões me fizeram, aos poucos, rever minhas prioridades, valorizar minha vida e as pessoas que fazem parte dela, assim como desfazer-me de coisas que não me traziam nenhum benefício.
Não, não estou dizendo que resolvi todos os meus problemas. Mas ainda que fosse dolorido pensar nestas coisas, sem perceber, trouxe mais VIDA para minha vida.


"É quando ela, a mais carente de sentido,
dá sentido a todas as coisas.
A mais carente de vida,
dá vida a todas as coisas.
Afinal, não é preciso morrer
para nascer-se de novo."




por Sophia Compeagá



6 comentários:

Anônimo disse...

É um assunto em que penso muito tb, mas em outros aspectos. Adorei

Pelos caminhos da vida. disse...

Já pensei varias vezes,já deletei meu pensamento sobre tudo isso e,agora cheguei a conclusão:viver a vida da melhor maneira possivel junto com as pessoas que valem a pena e não ficar questionando nada.

Obrigada pela sua visita,espero que tenha gostado do meu espaço e retorne qdo quizer,serás sempre bem vinda.

bjs.

Bandys disse...

Um texto pra se pensar...

Obrigada pela visita e espero que voltes mais vezes

beijos

Lia Noronha &Silvio Spersivo disse...

temos muito o que falar sobre esse inesgotável assunto...a vida e suas possibilidades...que a fazem valer a pena!
abraços e obrigada pelo carinho no meu Cotidiano.

Michel Valverde disse...

Cara Sophia!

É bom saber que ainda existem pessoas disposta a refletir sobre temas considerados banais no imaginário das pessoas. Alguns se salvarão da imbecilização coletiva a que, cada dia mais, recai sobre os homens. Como seu próprio nome revela (sophia - sabedoria - desculpa a mania de professor de filosofia ficar usando de etimologias), a sabeoria encontra-se num confronto ousado com a realidade desafiadora, e é exatamente na finitude que tal confronto ganha maior sentido.
Visite meu blog se quiser.
Um abraço e parabéns!

Fernando Pinto disse...

«(...) A vida é essa montanha russa, que ora nos coloca lá em cima gozando da maior felicidade, e ora nos põe pra baixo e nos faz querer desesperadamente subir novamente, e para isso, empreender esforços, produzir, mobilizar-nos, até que novamente se alcance o topo...»

Sábias, estas tuas palavras... Cumprimentos de Portugal