25 novembro 2009

Rita Apoena

Me encanto profundamente com o que Rita Apoena escreve. Mal tenho palavras... mas ela tem! E são palavras que vão tão direto ao coração que a gente lê quase que com todos os sentidos e não somente a visão. Toca na gente como um carinho, soa como música, tem cheirinho de infância e gosto de descobertas. E aguça essa curiosidade infantil de sempre se ler mais de Rita.


"Eu sei que quando um paizinho dorme para sempre, ele não atende mais o telefone, não aparece mais no portão. Não adianta chamá-lo pelo nome ou dizer que é dia de futebol. É que quando um paizinho dorme para sempre, ele fica assim, espalhado no mundo, em todas as coisas pequeninas, e a gente precisa de muita delicadeza para encontrá-lo de volta.

No começo, a gente só o encontra nos suspiros da mãe, nos olhos do cachorro esperando no portão, na cadeira vazia, no remendo dos armários, nos pregos segurando os quadros, na garrafa de vinho, pela metade. Aos pouquinhos e devagar, a gente começa a encontrá-lo nas alegrias do mundo, no vôo das cotovias, no desenho das nuvens formando barquinhos e caravelas, numa pessoa sem mágoa, nas toalhas sem nódoa, e até quando felizes nossos olhos vão se enchendo d'água... "

18 novembro 2009

Duvido de quem não alimenta dúvidas...


"Duvido de quem não alimenta dúvidas,
de quem nunca quis fugir,
dos que não se escondem,
dos que sempre dão a cara pra bater.
Há algo profundamente triste
em não sentir falta
de alguém que não vai voltar...".

(Mário Bortolotto)

13 novembro 2009

Sobre andanças e mudanças

Nesta semana comemoramos o aniversário do Zeca.
Faz tempo que não posto nada sobre ele aqui, e relendo a última postagem, dei algumas risadas. Tamanha era minha ansiedade com a história de levá-lo comigo no voo. Tamanho meu engano querendo atribuir um medo meu à ele.
Não estou “curada”, nem estou tocando neste assunto novamente por estar prestes a tomar um avião - embora minhas férias estejam se aproximando e seja fato que eu vá ter de voar em poucos dias. Também não sei dizer exatamente porque estou escrevendo sobre isso, mas sei que muita coisa mudou, sim.
Nenhuma boa e concreta mudança acontece de uma hora para a outra. É preciso tempo, um tempo interno para vivências, um tempo para a elaboração dessas vivências, um tempo para ir se permitindo, aos poucos, renascer. É mesmo como uma gestação, e um parto... um doloroso parto.
E certas mudanças têm disso, mesmo as mais evidentes. Não se sabe bem onde ela está, onde começou, como ou quando, mas sabe-se muito bem que ela aconteceu.
Eu mudei! E não foi através de propostas milagrosas, revoluções espirituais, ou qualquer outro tipo de pressão. Pelo contrário, mudei justamente quando aprendi a ceder e me dei conta de que quando a luta é interna não há vencedores.
Muito se fala em psicanálise sobre não ceder do próprio desejo, e bancá-lo, confrontando os obstáculos necessários para isso, inclusive os medos.
O que talvez eu tenha aprendido seja, não a ceder DO desejo, mas AO desejo.
Acredito que aquilo que nos causa medo esconde muito do nosso desejo, e não deve ser à toa que “elegemos” certas coisas para temer.
Esse tal medo de voar me obrigou a refletir sobre seus significados e sentidos e pude concluir, não há bater de asas que sustente o peso do medo de sair do ninho. O que eu não sabia era que ao invés de tentar enfrentar o medo, precisava antes, entender o que era criar asas e alçar voo. Precisava saber do meu desejo.

Sophia Compeagá








Zeca fez aniversário dia 10, no mesmo dia em que o 'avô', meu pai.
Claro, com o 'avô' paraquedista e o 'pai' piloto, achar que ele teria qualquer medo ao embarcar no avião só poderia ser neurose de 'mãe'...