25 novembro 2009

Rita Apoena

Me encanto profundamente com o que Rita Apoena escreve. Mal tenho palavras... mas ela tem! E são palavras que vão tão direto ao coração que a gente lê quase que com todos os sentidos e não somente a visão. Toca na gente como um carinho, soa como música, tem cheirinho de infância e gosto de descobertas. E aguça essa curiosidade infantil de sempre se ler mais de Rita.


"Eu sei que quando um paizinho dorme para sempre, ele não atende mais o telefone, não aparece mais no portão. Não adianta chamá-lo pelo nome ou dizer que é dia de futebol. É que quando um paizinho dorme para sempre, ele fica assim, espalhado no mundo, em todas as coisas pequeninas, e a gente precisa de muita delicadeza para encontrá-lo de volta.

No começo, a gente só o encontra nos suspiros da mãe, nos olhos do cachorro esperando no portão, na cadeira vazia, no remendo dos armários, nos pregos segurando os quadros, na garrafa de vinho, pela metade. Aos pouquinhos e devagar, a gente começa a encontrá-lo nas alegrias do mundo, no vôo das cotovias, no desenho das nuvens formando barquinhos e caravelas, numa pessoa sem mágoa, nas toalhas sem nódoa, e até quando felizes nossos olhos vão se enchendo d'água... "

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