31 outubro 2008

do discurso...


Definitivamente, falo pelos cotovelos. Falo sozinha, falo com minhas plantas, puxo conversa com estranhos, falo sem pensar, falo pensando, penso falando.
Tenho dificuldades para conceber um raciocínio mudo.
Também adoro ouvir, aprecio sotaques, reconheço aptidões musicais, ADORO ouvir histórias. Reais ou não. Talvez eu seja mesmo muito "auditiva".
Da mesma forma, as coisas mais irritantes pra mim são as que me chegam pelo som, pela voz, ruídos que tiram o sono, palavras cortantes, músicas ruins...
Falar, pra mim, assim como escrever (e, sim, eu escrevo e leio imaginando vozes) é uma forma de me organizar, me expressar, me construir juntando os fragmentos dos pensamentos que flutuam no meu mundinho aqui dentro.
Nesse sentido, falar é descobrir, desvendar, conhecer... a mim, o mundo, as pessoas.
Acho que falo perguntando.
Inclusive acho que passo a imagem de uma certa insegurança, porque raramente duvido ou discordo das pessoas e dificilmente afirmo uma coisa com ares de certeza. E se digo alguma coisa num tom de muita imposição, logo desconfio de mim mesma.
Não que não tenha meu próprio modo de pensar, ou que mude-o de acordo com o que ouço por aí. Mas acredito e respeito a lógica interna das pessoas. Assim como sou muito grata à quem me critica.
Porque aí está uma das coisas que menos aprecio nas pessoas: a mania de querer impor seu modo de pensar aos outros, seja por prazer ou por necessidade. O mais (ou menos) interessante é que, normalmente, estas pessoas discordam de tudo. Até de quem concorda com elas, porque não param para ouvir a opinião do outro. Falam sozinhas, mas não falam para elas mesmas. Falam somente para (se) afirmar.
Quando disse que desconfiava de mim mesma ao passar perto de ter uma atitude destas, é porque acredito que, afirmar demais uma coisa, é uma forma de apontar o quão frágil me coloco diante daquela questão. Do quanto aquilo me incomoda, e da INcerteza destas afirmações.
O nível de agressividade expressado é equivalente ao grau de ameaça a que se acredita estar submetido.
Pessoas assim têm dois destinos, ou ficam sozinhas - porque não constroem relações de crescimento, aceitação e troca - ou ficam rodeados de gente insegura que mal entendem do que falam, mas lhe dão ouvidos.
Minto, gente assim também atrai gente semelhante... Posso imaginar (ouvindo as vozes, claro) como seria um diálogo desse tipo. Dois monólogos completamente desencontrados, assuntos de naturezas diferentes, como se falassem de política e jardinagem ao mesmo tempo. Ruídos...
Gente assim eu descarto. Mas aprendo com elas.
Acho que acabo de criar minha teoria das grandes discussões. Não acredito em discussões, não gosto de me envolver em grandes debates... a não ser como ouvinte, claro! Porque é impossível chegar a grandes conclusões tendo que mudar de posição sem repetir e repassar a idéia por algumas vezes na cabeça. E isto não acontece num único dia. Envolve descontruir e reconstruir idéias.
E nossas convicções são importantes para nós. Não parece, mas SIM, eu penso desta forma! Só não aceito tomar posse de uma idéia que no final vai tomar posse de mim.
Por isso admito que, embora esteja aqui justamente criticando, eu mesma muitas vezes defendi idéias com unhas e dentes, quase que literalmente. Mas depois de um tempo percebi que estava deixando de ser eu, com minha inteligência e capacidade crítica, para adotar uma idéia pronta sem a chance – ou pior, a permissão - de questioná-la ou contrui-la a meu modo.
Hoje procuro ouvir, não só o que as pessoas dizem mas também aquilo que não dizem (não estou falando de analisar e interpretar... coisa de psicólogo, credo! rsrs). Falo de ouvir a emoção que a pessoa traz através do que fala, e, sobretudo, de respeitar seu modo de expressar e pensar.
Porque há uma lógica em cada discurso e uma razão pela qual falam.



By Sophia Compeagá
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"Sempre conservei uma aspa à esquerda e à direita de mim"
(Clarice Lispector)

5 comentários:

Unknown disse...

KKKKKKKKKK, ME VI NESSE TEXTO!!
amei...BEIJOS

Anônimo disse...

Sophia, e vc se inspirou em nossa conversa?????????Não sei se fico feliz ou triste rs. Bjs, adoro demais

Késia Maximiano disse...

e pra cada fala, um ato...

Bruna disse...

Adorei Soophia! E eu também sou assim, falo pelos cotovelos, falo sozinha..com estranho! HAHA! :P

Beijos!

Unknown disse...

Interessantíssimo seu texto!!!
Como sempre!!!
Bjos