28 outubro 2010

descosturas


não sabia se despedir. 
não sabia romper, dar fim ou encerrar nada que fosse. 
simplesmente fugia sem pingar o ponto final do fim da história.
era incapaz de suportar a dor da constatação de uma separação e preferia fingir que não acontecera. 
se afastava acreditando que o tempo daria conta de curar as feridas sozinho.
mas sem um ponto final que arrematasse a costura, os fios se esvaíam aos poucos, desfazendo-a ponto a ponto 
até não haver mais costura, ou história. apenas uma lembrança vaga, rasa, inconsistente e vazia.
sem memória e sem história, não teria perdas pelas quais chorar. mas chorava. as vezes. sem saber por que.
não sabia que a cada esquecimento, anulava também uma parte de si, apagando parte do que havia construído de si mesma junto ao outro e no outro que guardava dentro de si.
sem encerrar uma vivência não podia iniciar outras. pensava que iniciava. mas na verdade seguia a mesma e única história que era capaz de viver. 
vivia sem existir. 

sophia compeagá

Um comentário:

Sergio disse...

É Sophia, como diz o samba: "a vida só se dá pra quem se deu." Há pessoas que nunca fizeram mal, mas também nunca fizeram o bem,nunca arriscaram por medo e com isto, jamais se machucaram pelas frustrações, porém, jamais conhceram o prazer de uma vida com seu grande amor. Essas são expectadoras da vida que se esqueceram de ser protagonistas. Na verdade,não seria também uma existência sem vida?