23 outubro 2010

eu, apêndice

começou com um passo atrás, em seguida outro e outro.
quanto mais se afastava, mais desejava afastar, e assim fazia.
não intentava fugir, mas a nova imagem que descobria à sua frente a cada passo era irresistível e queria experimentar mais.
ao contrário do que parecia, quanto mais recuava, mais se sentia dentro, mais se sentia parte.
pela primeira vez sentia que existia, pela primeira vez estava perto de reconhecer o próprio valor. 
reconheceu-se na falta de sua presença. através do corpo invisível que sua ausência contornava.  
nunca antes fora capaz de reconhecer-se parte. era um apêndice.
quando enfim sentiu-se inteira, depois de ter recuado tantos passos e deslumbrado um mundo enorme do qual fazia parte e no qual fazia falta, podia então retornar. 
mas não retornou.


sophia compeagá

Um comentário:

Anônimo disse...

Amei a combinação das palavras... Me fez viajar!
Super Bjo,
Van