09 janeiro 2010

Sansões e Dalilas

nunca imaginei que a sensibilidade de um cachorro fosse tão longe...
zeca foi tosado pela primeira vez e voltou todo deprimido do pet, de cabeça baixa e quase sem reação. morri de pena.
realmente ficou muito diferente e temi que ele lesse nos meus olhos o quão estranho ele estava.
a depressão dele durou um dia, assim como a minha tendo que ver ele naquele estado.
sem sucesso tentei animá-lo, brincando e fazendo bagunça, até que desisti, me deitei do lado dele e apagamos juntos...
ele já melhorou e agora está todo serelepe, talvez ainda mais que antes porque está todo leve e sem pelos nos olhos. agora vê tudo com esses olhos arregalados que eu nem sabia que ele tinha. e está mto fofo. inclusive acho que o pelo já cresceu um pouco.
é engraçado porque eu tenho toda uma história com cabelos. minha família toda tem.
hoje todo mundo lá em casa é cabeleireiro, mas antes era só minha avó. o que já era suficiente para minha tortura.
já fui cobaia de vários experimentos bizarros... só eu sei. eu que sofro do terrível azar de ter o cabelo fino que acaba por se render facilmente aos desejos de mãos sádicas no manuseio de tesouras e químicas diversas.
sabe aquela história de a mãe não deixar a filha pintar o cabelo antes dos 15? não aconteceu comigo... quando eu tinha 9, minha mãe e avó fizeram permanente no meu cabelo. dá pra imaginar? já tive o cabelo de várias cores e tamanhos, e os cortes mais bizarros. isso sem contar que quando eu tinha 2 anos e os cachinhos começaram a aparecer (sim porque nasci totalmente careca), meu pai que queria que meu cabelo fosse liso igual ao da minha mãe, ignorando qualquer conhecimento sobre genética, cortou todos os fios na esperança de vê-los nascer novamente lisos. virei um joãozinho. (valeu pai!)
com todo esse estímulo me senti com total autonomia para, aos 13 anos, comprar um alisador químico na farmácia e pedir para passarem no meu cabelo. acontece que eu não sabia que escova também alisava, ainda que provisoriamente, e a cabeleireira então (minha prima) aplicou o alisador e em seguida fez uma super escova no meu cabelo. desconhecendo que o efeito liso perfeito era do secador, tive o dia mais feliz da minha vida achando que aquilo ia durar "para sempre". aliás, as horas mais felizes da minha vida, porque naquele mesmo dia resolvi nadar em uma cachoeira, molhando as lisas madeixas que logo em seguida voltaram ao estado normal, com a diferenciação de estarem ressecadas e quebradiças. que decepção!
enfim, as experiências não foram poucas... e em quantidade e exagero só perco para minha irmã.
mas realmente não imaginei que isso iria se repetir com meu cachorro. até penso que quando tiver uma filha, vou cuidar do cabelo, evitar qualquer atitude extrema e protegê-la dos avós, tios, primos, etc...
definitivamente os cães e outros animais são muito mais sensíveis e inteligentes do que pensamos. há quem traduza isso em termos de 'humanidade'. me adianto em dizer que está longe disso... nada se compara à espontaneidade dos animais em expressar o que lhes desagrada. diferentemente de nós que expressamos nosso lado selvagem de formas tão inadequadas justamente pela tentativa de ignorarmos nossa truculência. somos muito mais animais do que nossos animais são humanos, e quanto antes nos dermos conta da selvageria que nos habita melhor lidaremos com ela. 
sophia compeagá


"A nossa vida é truculenta:
nasce-se com sangue
e com sangue corta-se a união
que é o cordão umbilical.
E quantos morrem com sangue.
É preciso acreditar no sangue
como parte de nossa vida.
A truculência.
É amor também".

(Clarice Lispector)

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