26 abril 2009

Super Zeca




"(...)Eu prefiro a companhia dos animais à companhia humana. Porque são tão mais simples. Não sofrem de uma personalidade dividida, da desintegração do ego, que resulta da tentativa do homem de adaptar-se a padrões de civilização demasiado elevados para o seu mecanismo intelectual e psíquico. O selvagem, como o animal, é cruel, mas não tem a maldade do homem civilizado. A maldade é a vingança do homem contra a sociedade, pelas restrições que ela impõe. As mais desagradáveis características do homem são geradas por esse ajustamento precário a uma civilização complicada. É o resultado do conflito entre nossos instintos e nossa cultura. Muito mais agradáveis são as emoções simples e diretas de um cão, ao balançar a cauda, ou ao latir expressando seu desprazer. As emoções do cão lembram-nos os heróis da Antigüidade. Talvez seja essa a razão por que inconscientemente damos aos nossos cães nomes de heróis antigos como Aquiles e Heitor..." (Freud, 1926)





É, Zeca não é lá um nome de grandes origens...
Mas meu Zeca se torna herói nas tantas vezes em que me salva... especialmente de mim!
Com suas peraltices fora de hora está sempre me lembrando de não levar a vida tão à serio.
E acabo me dando conta de que talvez eu também ME leve à sério demais...
E é atribuindo tanto valor à coisas tão simples, como o reencontro do final do dia,
que ele me aponta a urgência de viver!

09 abril 2009

da repetição



Já não sei mais se realmente nossa evolução se dá por fases e fases que se sobrepõem e cada vez nos expõem a desafios maiores ao mesmo tempo que nos preparam para enfrentá-los.
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Fatalmente tenho constatado que o que realmente nos move (ou estagna, mas nos mantém em pé) seja um estranha força gravitacional que nos atrai para um mesmo ponto e funciona enquanto nos mantemos engrenados no seu eixo, mas que, por alguma razão, pode deixar de funcionar e nos fazer, em vão, girar soltos sobre uma mesma energia que não se altera, que não se modifica, e nos faz fatigamente repetir os mesmos erros.


Mas que crescimento haveria nisso, mesmo que a engrenagem funcionasse?
Talvez estejamos falando de um espiral ascendente onde, embora esteja cada pessoa pré-destinada a girar no mesmo ângulo, de alguma forma esta energia nos eleve, e nos leve a alguma evolução.

Ignore qualquer teoria, a única certeza que tenho é de que saí do eixo. E que gradualmente tenho tentado retornar (se é que algum dia eu já estive no meu total equilíbrio e funcionamento). E já não sei dizer se há, sequer, força gravitacional alguma sustentando e integrando meus sentimentos, pensamentos e ações.
Não sei onde parei, e talvez seja esse deslocamento que me faça repetir e repetir a mesma história na tentativa de integrar alguma coisa e me tornar UMA.

Mas quem sabe Clarice esteja certa quando diz que na repetição acaba-se cavando pouco a pouco.
Quem sabe eu esteja sim no caminho certo e seja este apenas mais um momento de desafio, daqueles que nos põem em cheque e nos obrigam a enfrentar os riscos para depois nos fortalecermos com a experiência.

Talvez esteja eu, como Dorothy, trilhando a estrada de tijolos amarelos que me levam a Oz. Ou talvez esteja já em vias de me encontrar com o Mágico que me indicará o verdadeiro caminho de casa. Ou talvez esteja ainda dentro do tornado...

Acabo de me dar conta, os tornados também têm a forma de espirais...

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Por Sophia Compeagá



08 abril 2009

Da sublimação (desta vez da 'sublimação química' mesmo)


Desisti de tentar ser feliz e escolhi viver.
A felicidade me soava como uma estagnação, e a obstinação em ser feliz me exigia um controle absoluto sobre atos e escolhas, e eu já não sei mais se quero fazer sempre as escolhas certas. Sem falar que quanto mais se tenta controlar alguma coisa, qualquer coisa, mais esta lhe escapa, inevitavelmente.
Por isso eu digo, felicidade mesmo, em estado sólido não existe. Felicidade é líquido, que não se vende em frascos...
O que eu quero e decido agora é viver da forma mais consciente possível.
Afinal, ser feliz é ouvir o anjinho ou o diabinho dentro de mim?

Eu escolhi viver, e escolhi impor respeito pelas minhas escolhas.
Pode até ser que a felicidade bata na minha porta em decorrência disso, mas que eu saiba que ela é passageira, e não tem morada.
Não que eu queira a infelicidade, ou que eu viva colecionando cicatrizes, só não quero me acomodar, até porque felicidade é coisa tal com a qual ninguém se acomoda. Como água, adquire a forma do seu receptório e, se a tentamos prender, nos escorre pelos dedos...
Talvez felicidade exista, mas tenha vida própria, e vague por aí visitando pessoas distraídas.


Com tudo isso o que eu quero dizer é muito simples, não quero me distrair, mas também não quero controlar. Só quero sentir que estou vivendo minha história ativamente. Para que no fim eu saiba que vivi à minha maneira, e se valer a pena, foi porque eu fiz ser assim.

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Por Sophia Compeagá

03 abril 2009

Sobre cartas, irmãs e saudades...

Por Clarice Lispector


"Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. Há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo.
Quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma em boi. Assim fiquei eu...
Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também a minha força.
Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que imagina que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio de viver.
Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer.
Se é que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão.
Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige.
Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade da alma".

(Carta escrita por Clarice à irmã em 1947 quando em Berna - Suiça se dizia com saudades do Brasil)





Por falar em carta à irmã e saudades, hoje a Leilane faz 20 anos!
Aff... o tempo passa! Ainda guardo viva a lembrança daquele toquinho de gente que descascava a cara das minhas bonecas.
Mas esses traumas a gente nunca esquece mesmo! =D
Querida ir, é muito bom poder contar com sua amizade que, independente do laço familiar, é sincera e incondicional. Amo e admiro sua espontaneidade, sua honestidade (isso tivemos onde aprender), sua franqueza (bota franqueza nisso) e dedicação em tudo que faz e com as pessoas à sua volta. Ser sua amiga é um privilégio, ser sua irmã é uma bênção!

Te amo muito, Nanyka!
Parabéns pelo seu dia!
Morro de saudades...