30 julho 2008

25th...


É do processo natural das coisas: aprende-se a viver vivendo! E, à medida em que os anos passam, novas lições nos são apresentadas, muitas delas vindo de encontro com os nossos primeiros valores e impressões!

À medida em que minha vida foi passando, passei a me esforçar menos para agradar as pessoas à minha volta e fui percebendo que desta forma elas gostavam mais de mim.
E, apesar de saber que nem sempre o que vem de dentro é bom e adequado, me tornei uma pessoa mais espontânea! E é disso mesmo que as pessoas gostam: espontaneidade tem sabor de verdade!
Hoje ressinto-me menos, porque passei a expressar meus sentimentos na hora certa e para a pessoa certa! Mesmo que ela não saiba! Isto me evitou muitas outras brigas desnecessárias com pessoas não merecedoras do meu mau humor venenoso, principalmente eu mesma!
Dizendo essas coisas faço parecer que fui uma pessoa que guardava muitas mágoas, e que era infeliz! Não! Mas quem é que não passa por essas coisinhas e se vê chateado por uma palavra torta, pela omissão de um cumprimento, ou por coisas que nem se sabe o quê!?

Na verdade, de todas, minha principal lição foi perceber que sempre terei coisas a aprender! E que a verdade estará sempre mudando! E que quanto mais aberta eu for para aceitar isto e aprender as novas lições, mais viva me sentirei e menos sofrerei!

Também aprendi que as pessoas se vão, e só neste momento você saberá o real valor delas! Algumas, as que você achava que sentiria a maior falta, se descobrem sem o menor valor, e outras, talvez aquelas que de tão presentes em nossas vidas nos permitem nos acomodar com sua presença a ponto de esquecermos sua importância, poderão fazer uma falta enorrrrme!!!
Aprendi que tempo não significa muito... Algumas pessoas chegam, apaixonam seu coração e em pouco tempo você sabe, com uma certeza quase mágica, que esta pessoa veio para ficar!

Aprendi que família é a coisa mais louca deste mundo! E que nunca se é totalmente capaz de julgar a sua, assim como não é possível observar um objeto muito perto dos olhos, você está tão dentro dela que não pode entendê-la. E o melhor caminho para isso tudo é o amor! E, se preciso, um psicólogo que não faça parte do grupo!

Aprendi que algumas pessoas são viciantes e deixam marcas para o resto da vida, e que outras são esquecidas ao virar a primeira esquina... mas que pessoas são a melhor invenção, a melhor companhia, a melhor escola!

E os amigos, estes são bênçãos divinas, e vêm de graça! Com eles você não têm laços consanguíneos, não precisa assinar nenhum papel e por isto mesmo eles se tornam tão especiais! Porque qualquer laço criado é sinal de afinidade espontânea, de sentimento puro, e isso faz de nós seres humanos de verdade, capazes de aceitação e entrega!

Aprendi que fé independe de religião! Já passei por várias, mas é justamente hoje, quando estou fora de qualquer uma delas, onde encontro mais fé! É... talvez eu realmente tenha um olhar diferente sobre o que é ter fé. Mas sou muito mais feliz hoje na minha espiritualidade! Claro que existem outros caminhos espirituais válidos, e defendo todos eles, desde que sejam da vontade da própria pessoa. Mas para mim, foi preciso ser assim!

Gostaria de poder falar da minha profissão, do quanto ela dá sentido à minha vida, mas ainda não a tenho... Sim, estou em vias de tê-la, e por isso só posso dizer que a Psicologia me salvou muitas vezes (não estou falando do seu conteúdo, poderia ser Biologia, Filosofia, Veterinária...), e, como ouvi um dia: "estudo é um bem que você nunca perde!". É nele onde encontro meu maior prazer e realização!

Aprendi que não posso resolver os problemas dos outros! Que posso indicar caminhos, dar exemplos, que posso fazê-las olhar para si mesmas, mas não posso fazer por elas. E isso é frustrante! Principalmente quando descubro que ajudá-las é uma forma de esquecer que também tenho problemas mal resolvidos! Ai...

Aprendi que tem horas que a tristeza vem, não tem jeito! E você pode negá-la, brigar com ela, disfarçar, se drogar... mas o melhor é encará-la e tentar entendê-la. Quando ela der seu recado e cumprir sua missão, irá embora, naturalmente... porque é isso que ela é: parte da sua natureza!

E aprendi que às vezes é preciso abandonar coisas em função de outras, ou em função de nada mesmo! Que perder nem sempre significa perder! E que é preciso ter sempre fé no processo da vida e em si mesmo!

Para finalizar queria compartilhar uma frase do Caetano Veloso que muito me fez refletir nos últimos tempos: "Respeito muito minhas lágrimas, mas ainda mais minhas risadas". Porque deixar de ser vítima da própria vida e da própria história é essencial para o amadurecimento! E aprendi que é preferível, se necessário, sentir culpa do que se viveu do que perder a oportunidade de fazer a vida acontecer e poder assinar seu nome embaixo!



Sophia Compeagá

εϊз...

15 julho 2008

Pertencer

Por Clarice Lispector
"Um amigo meu, médico, assegurou-me que desde o berço a criança sente o ambiente, a criança quer: nela o ser humano, no berço mesmo, já começou.
Tenho certeza de que no berço a minha primeira vontade foi a de pertencer. Por motivos que aqui não importam, eu de algum modo devia estar sentindo que não pertencia a nada e a ninguém. Nasci de graça.
Se no berço experimentei esta fome humana, ela continua a me acompanhar pela vida afora, como se fosse um destino. A ponto de meu coração se contrair de inveja e desejo quando vejo uma freira: ela pertence a Deus.
Exatamente porque é tão forte em mim a fome de me dar a algo ou a alguém, é que me tornei bastante arisca: tenho medo de revelar de quanto preciso e de como sou pobre. Sou, sim. Muito pobre. Só tenho um corpo e uma alma. E preciso de mais do que isso.
Com o tempo, sobretudo os últimos anos, perdi o jeito de ser gente. Não sei mais como se é. E uma espécie toda nova de "solidão de não pertencer" começou a me invadir como heras num muro.
Se meu desejo mais antigo é o de pertencer, por que então nunca fiz parte de clubes ou de associações? Porque não é isso que eu chamo de pertencer. O que eu queria, e não posso, é por exemplo que tudo o que me viesse de bom de dentro de mim eu pudesse dar àquilo que eu pertenço. Mesmo minhas alegrias, como são solitárias às vezes. E uma alegria solitária pode se tornar patética. É como ficar com um presente todo embrulhado em papel enfeitado de presente nas mãos - e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! Não querendo me ver em situações patéticas e, por uma espécie de contenção, evitando o tom de tragédia, raramente embrulho com papel de presente os meus sentimentos.
Pertencer não vem apenas de ser fraca e precisar unir-se a algo ou a alguém mais forte. Muitas vezes a vontade intensa de pertencer vem em mim de minha própria força - eu quero pertencer para que minha força não seja inútil e fortifique uma pessoa ou uma coisa.
Quase consigo me visualizar no berço, quase consigo reproduzir em mim a vaga e no entanto premente sensação de precisar pertencer. Por motivos que nem minha mãe nem meu pai podiam controlar, eu nasci e fiquei apenas: nascida.
No entanto fui preparada para ser dada à luz de um modo tão bonito. Minha mãe já estava doente, e, por uma superstição bastante espalhada, acreditava-se que ter um filho curava uma mulher de uma doença. Então fui deliberadamente criada: com amor e esperança. Só que não curei minha mãe. E sinto até hoje essa carga de culpa: fizeram-me para uma missão determinada e eu falhei. Como se contassem comigo nas trincheiras de uma guerra e eu tivesse desertado. Sei que meus pais me perdoaram por eu ter nascido em vão e tê-los traído na grande esperança.
Mas eu, eu não me perdôo. Quereria que simplesmente se tivesse feito um milagre: eu nascer e curar minha mãe. Então, sim: eu teria pertencido a meu pai e a minha mãe. Eu nem podia confiar a alguém essa espécie de solidão de não pertencer porque, como desertor, eu tinha o segredo da fuga que por vergonha não podia ser conhecido.
A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver. Experimentei-o com a sede de quem está no deserto e bebe sôfrego os últimos goles de água de um cantil. E depois a sede volta e é no deserto mesmo que caminho!"

10 julho 2008

dos laços...


Quem disse que relacionamento é coisa que deve durar pra sempre?
As pessoas se vão, de um jeito ou de outro. Algumas se vão antes mesmo de irem de fato!
Estar junto ou separado vai muito além do sacramento, do papel, da lei (que aliás tem percebido a grande complexidade das relações).

Casamento eterno é tratado religioso, que tinha como principal finalidade o acúmulo de bens. Aliás, o casamento passou por uma história interessante ao longo dos anos, sem contar as mudanças que os papéis "marido" e "mulher" sofreram e tem sofrido diante da sociedade.
Sei que com o capitalismo, a contemporaneidade vem marcada por instituições falidas: igreja, estado, família, escola, casamento. Ao contrário do que parece, este texto não vem cooperar com este fenômeno. Não quero apoiar este enorme salto estatístico das separações e divórcios dos últimos anos. Longe de mim MESMO...
Mas sou realista, as coisas nem sempre seguem como desejamos, queremos ou idealizamos.

Casamento não prende ninguém, filho não prende ninguém! "Prende", que termo estranho...
Já dizia a música: "a nossa liberdade é o que nos prende". Pra mim, casamento ideal é este! A liberdade concedida garante que o parceiro esteja com você realmente por opção!

Nem sempre funciona, mas pra mim o importante da relação é a história que a sustenta. A paixão não dura para sempre mesmo, isso é fato comprovado c-i-e-n-t-i-f-i-c-a-m-e-n-t-e! Mas o que eu também acredito e a ciência não diz é que podemos nos reapaixonar... por um gesto, por uma palavra, por alguma novidade vindo da mesma velha pessoa. Há muito ainda por nos apaixonarmos e relacionar-se exige constante criatividade!

Outra coisa que nem sempre funciona, mas pra mim se faz importante, é a, já dita, liberdade! Dar liberdade e espaço para o outro ser ele mesmo é essencial para que a relação seja verdadeiramente uma relação. Quando conhecemos uma pessoa e nos apaixonamos, quer aceitemos ou não, nós nos apaixonamos por aquilo que ACHAMOS que ela é. Antes de conhecermos o objeto de amor, já o temos idealizado, e cabe a nós depois encaixá-lo ao máximo de características possíveis da pessoa real.
O problema é que acreditamos que a pessoa é mesmo aquilo que nossas primeiras impressões apontaram. E tendemos a negar o restante que nos vai sendo apresentado pouco a pouco. E em pouco tempo estaremos acusando os pobres coitados de nos decepcionarem por não serem os mesmos de quando os conhecemos. O amor é mesmo cego...

Relacionar-se de verdade envolve aceitação e entrega. Relacionar-se de verdade proporciona autoconhecimento e evolução da alma.
E quando nos relacionamos de verdade a paixão constante é possível porque o outro será sempre outro, e estará sempre mudando, como nós também.
Mas colocar tudo isso em prática exige muito esforço... que cabe a cada um julgar se vale a pena ou não! Como tudo na vida, e como a própria vida, relacionar-se intensamente oferece perdas e ganhos. O importante é estar consciente de nossas escolhas. E investigar seus reais motivos...
Sophia Compeagá
εϊз...
"Nao precisa ser para sempre, mas precisa ser ate o fim!"
(Rosana Braga)