30 junho 2008

As palavras têm vida



As coisas não existem, as palavras existem!

Palavra é "só" representação, mas a necessidade de haver palavras para nomear as coisas significa que as coisas são inatingíveis por elas mesmas.

E a gente vive é mesmo assim... representando... vivendo e convivendo através de imagens irreais... e sem saber! Ainda bem! Afinal, saber, muitas vezes tira o encanto das coisas...

Mas escrevê-las lhes devolve um encanto especial!
Saber é absorver. Por isso leio, para que as coisas passem a existir dentro de mim.

E eu escrevo mesmo é sobre coisas que não sei. Só sei falar do que não entendo. Porque o que entendo já não importa, o que já entendo não move nada em mim! É o desconhecido que me instiga!

Viver é isso... as coisas nunca estão prontas, nada nos satisfaz plenamente e a gente nunca está maduro o suficiente.

Portanto sou, eu mesma, desconhecida para mim. Porque não sou, constantemente me torno!

E talvez por isso nunca deixe de escrever...

Quando acabarem os mistérios (e, acredite, nunca vão acabar!) eu mudarei de opinião! E passarei a rever o que já sei... Passarei a dar vida ao que já está morto dentro de mim!

Esta é mais uma das ironias da vida que eu tanto aprecio, um contraste fabuloso: fé é dúvida!




Sophia Compeagá


εϊз...

26 junho 2008

Se eu fosse falar de amor


Se eu fosse falar de amor
eu iria falar de despedidas,
eu iria falar de desencontros,
eu iria falar de esperas,
eu iria falar de distâncias.
Sim, eu iria falar de dores
porque o amor nasce mesmo é na falta.
Mas eu não sei falar de amor!
Porque o amor não pode ser traduzido.
Falar é explicar,
e o amor só pode ser sentido.

Sophia Compeagá

ઇ‍ઉ...

25 junho 2008

da perda...


"Chego à conclusão de que a derrota, para a qual nunca estamos preparados, de tanto não a desejarmos nem a admitirmos previamente, é afinal instrumento de renovação de vida. Tanto quanto a vitória, estabelece o jogo dialético que constitui o próprio modo de estar no mundo. Se uma sucessão de derrotas é arrasadora, também a sucessão constante de vitórias traz consigo o germe de apodrecimento das vontades, a languidez dos estados pós-voluptuosos, que inutiliza o indivíduo e a comunidade atuantes. Perder implica remoção de detritos: começar de novo."

(Carlos Drummond de Andrade)

10 junho 2008

das desconstruções que nos constroem...

Aprender a desconstruir é de longe a mais difícil de todas as aprendizagens.
Desconstruir compreende desfazer-se, desprender-se, abandonar, abandonar-se talvez.
E é diferente de destruir.
Desconstruir é um processo, exige consciência e vontade, e não é possível a qualquer um - e talvez nem necessário, afinal só desconstrói quem construiu.

Ao longo da vida construímos "verdades"... nos apegamos a idéias, pessoas, valores; formamos laços, adquirimos conhecimento. E estas aquisições definem grande parte do que somos.
Mas há momentos em que aquilo que temos como verdade não é suficiente para dar sentido aos novos acontecimentos e não se integra às novas verdades e aos novos valores. Normalmente estes momentos vêm acompanhados de dor, frustração, confusão e luto.

Algumas pessoas, quando este conflito lhes acomete, tendem à se apegar ainda mais às antigas verdades, declaram-na para si mesmas, impõe-nas aos outros. Natural! Suas verdades são sua base, seu norte, aquilo através dos quais filtram o mundo e se colocam nele. (como já disse, constitui-nos!).
Mas ao fim descobrimos que são eles que nos possibilitam o crescimento e a maturidade. É este movimento de se abrir para o novo que nos dá maior amplitude para compreender a vida e a nós mesmos.
Desconstruir é deixar para trás o que já não faz sentido agora, mas guardar conosco aquilo que de positivo aprendemos.
Uma nova etapa é sempre precedida de outras não menos importantes. Por isso é imprescindível reconhecer que o que vivenciamos numa determinada época era exatamente o que precisávamos para seguir evoluindo, assim a vida foi se revelando aos poucos para nós.

Acolha com carinho sua história e aquilo que outrora fora. Foram eles que possibilitaram ser o que é hoje e o que será amanhã.
Da mesma forma, dê espaço para que é novo (e mesmo estranho), e desconfie daquilo que mais lhe incomoda e ameaça, estes podem já fazer mais parte de você do que se supõe.


Sophia Compeagá

ઇ‍ઉ...



"Justamente sempre acontecia uma pequena coisa que a desviava da torrente principal. Era tão vulnerável. Odiava-se por isso? Não, odiar-se-ia mais se já fosse um tronco imutável até a morte, apenas capaz de dar frutos mas não de crescer dentro de si mesma. Desejava ainda mais: renascer sempre, cortar tudo o que aprendera, o que vira, e inaugurar-se num terreno novo onde todo pequeno ato tivesse um significado, onde o ar fosse respirado como da primeira vez."
(Clarice Lispector em 'Perto do Coração Selvagem')