06 maio 2009

Com-tradições

Falei tanto sobre felicidade e infelicidade nos últimos posts mas, noto agora, acabei por não concluir muita coisa. Disse, desdisse e contradisse-me um punhado de vezes, sem fazer-me compreender.
E é assim mesmo, as palavras nunca se esgotam e o desejo de se entender nunca é totalmente satisfeito. Afinal, quem pode tocar palavras?
No final, tudo acaba parecendo uma grande hipocrisia. E talvez seja mesmo. Mas achar todo mundo hipócrita é outra forma de ser.
Eu acho. E sou!
Se hipocrisia for ter em desarmonia o que se diz, pensa e faz, então sou a própria personificação da palavra. Além do mais, todo mundo sabe que quem repete demais as mesmas coisas, ainda não tem claro para si o que quer dizer. Cá estou novamente!
Mas, voltando à questão da felicidade, acho que a dificuldade em defini-la está na necessidade que temos em dicotomizar tudo, separando as palavras sempre em pares de opostos. Só que a vida não é assim, e nos prova todos os dias que os opostos se encontram e se complementam.
O sofrimento faz parte da vida e o ser humano precisa desta tensão que o perpassa continuamente, desta insatisfação que nos leva à algum lugar. O que nos move é o desejo, e o desejo nasce da falta.
Naturalmente este tema mobiliza. Como dizer que a felicidade, universalmente considerada como o horizonte da vida, não existe?
Acho que no final o grande aprendizado da vida consiste em simplificar os problemas, e simplificar-se a si mesmo. O que mais nos faz sofrer é achar que somos especiais demais, diferentes demais, tanto inferior quanto superiormente. Não que eu tenha alcançado este estado de compreensão e desapego dos meus problemas... devo estar bem longe disso. Ainda dou muita importância às minhas dores e conflitos e este blog é a prova viva disso. Mas já me dei conta desta minha desfunção, e este já é um grande passo!

Enfim, só sei falar de mim.
Eis aqui um blog egoísta e hipócrita de um ser humano estranho e confuso com um tremendo desejo de explorar as contradições do viver.






Sophia Compeagá







"- O que é que se consegue quando se fica feliz?, sua voz era uma seta clara e fina.
A professora olhou para Joana.- Repita a pergunta...?
Silêncio. A professora sorriu arrumando os livros.
- Pergunte de novo, Joana, eu é que não ouvi.
- Queria saber: depois que se é feliz o que acontece? O que vem depois? - repetiu a menina com obstinação.
A mulher encarava-a com surpresa.
- Ser feliz é para se conseguir o quê?
(Um dia - Perto do Coração Selvagem - Clarice Lispector)

3 comentários:

Sara disse...

"Só que a vida não é assim, e nos prova todos os dias que os opostos se encontram e se complementam..."

A vida, cara Sophia, não é só feita de bônus e/ou ônus. A vida é bela por ser complexa... por nos fazer sempre querer mais, mas ao mesmo tempo nos fazer querer ficar no nosso mundinho. Opostos se distraem/Dispostos se atraem, máxima de Anitelli. Alguns concordam, outro não.
E você? Quer lar? Ou revolução? Quer algo igual ou tão parecido quanto você? Seja, viva, se jogue! Mas nunca esqueça o quão importante e única você é... ;)

Beijos

Késia Maximiano disse...

Aaaahhh Clarice é tudo de bom...

Márcio Beckman disse...

Pode ser... Mas como já disse o filósofo Nietzsche "É preciso ter o caos aqui dentro para fazer nascer uma estrela". Então acho q as mudanças precisam primeiro acontecer na mente pra depois se concretizarem no plano físico.