ah eu vou morrer de saudades das minhas gurias queridas, da intensidade de tudo que vivemos juntas, da família que nos tornamos...
vou morrer de saudades da minha casa, minha rotina, meu quintal, minha vida construída aqui.
do clima, dos passarinhos tão simpáticos, das pessoas, e tudo aquilo que me pareceu tão estranho no início e que agora também faz morada em mim. jeitos, costumes, sotaques, e estranhices em geral...
e também vou morrer de saudades do que não poderei viver, das pessoas que não pude conhecer tanto quanto gostaria, dos lugares que não pude explorar suficientemente, das experiências que não pude viver na intensidade em que mereciam.
eu infelizmente sei que não será a mesma coisa estando longe, mas eu também sei que, com toda certeza, tudo isso ficará em mim, já faz parte de mim, do que eu sou hoje, e jamais deixará de fazer. e tendo compreendido isto poderei acreditar que talvez esta separação, em essência, não exista.
O MAPA
Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...
(É nem que fosse meu corpo!)
Sinto uma dor esquisita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...
Há tanta esquina esquisita
Tanta nuança de paredes
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)
Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso
Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar
Suave mistério amoroso
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)
E talvez de meu repouso...
(Mário Quintana)
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