24 fevereiro 2010

Uma porção de eus


Foi desde que eu entendi que ser humano não evolui que eu me decidi por buscar, ao invés de evoluir, expandir.
Eu não sei viver sem aspirar alguma coisa, ainda não aprendi a aceitar as coisas como são e a não querer mudar o mundo...
Quem sabe repetindo isso algumas vezes eu entenda.
Eu sei, pessoas não são como pokemons ou como os digimons que "digivoluem". Pessoas vivem, crescem, reproduzem (ou não) e morrem. Tão simples...
E entre uma coisa e outra criam. 
Nestas descobertas eu também abandonei esta busca desenfreada pelo auto-conhecimento, pelo menos da forma como fazia. É, porque essa coisa de buscar a si passou a me parecer tão retrógrada, como caminhar pra trás em busca de alguma coisa que foi perdida. Eu não quero encontrar o perdido, eu quero criar o novo, reinventar a vida, quantas vezes for preciso. 
Renascendo todos os dias vou ter uma porção de eus. E no final vou morrer de verdade, pois já terei vivido tanto que não vou caber em mim, que nem vou caber no mundo. 


Sophia Compeagá

"Todas as formas de vida são igualmente espantosas e miraculosas,
e não há tendência em direção a formas superiores" (Jacques Lacan).

14 fevereiro 2010

Born to be uai


A gente só entende o que é cultura quando se distancia da sua, quando sai do território conhecido e sente falta daquilo que nem tem nome ou consistência mas que te faz ser mais você. Fica dentro de cada um, mas não individualmente. É o plural que fica dentro da gente quando a gente se faz singular. É a sensação de se ter sempre pra onde voltar, mesmo que seja pra um lugar que só exista na lembrança...

Impossível se ensinar sobre cultura, definir ou descrever sem experimentar e sem se falar através da sua própria cultura.
Cultura é linguagem, e linguagem é tudo. Mesmo que haja muitos universos além desse "tudo". A linguagem é o nosso universo. E é a forma com que descobrimos e damos sentido e signicado ao próprio existir.

Conheço uma pessoa que ensinava sobre folclore contando lendas e historinhas do povo antigo. Não vejo melhor forma que esta. É um pouco como Lacan falava a respeito da psicanálise: ela não se ensina, se transmite!

Acabo de voltar das férias em Minas. Fui rever os familiares que há muitos meses não via. Foi daí que tirei essa coisa toda sobre cultura na qual tenho pensado...
Estava cheia de saudades das pessoas, do clima, do sotaque, do sabor das comidas típicas, do cheirinho de fogão à lenha, do feijão vermelho e de muitas outras coisas... Impossível enumerar a lista, sinto saudades de coisas estranhas tipo um velho portão que tinha na casa da minha mãe, da textura, do cheiro de madeira úmida, do barulho que fazia quando, empenado, se arrastava no chão... Eu sei, sou mesmo - estranhamente - nostálgica. 

Talvez por ter ficado um tempo razoável sem voltar, estava me sentido meio sem pátria. O sotaque já virou uma mistura danada, e eu estou mesmo cada dia mais apaixonada pelo Rio Grande do Sul, assim como também me apaixonei por outros lugares onde morei. E é impossível não carregar pelo menos um pouquinho conosco de cada lugar e de cada gente...
Mas foi só voltar pras Gerais que me encontrei de novo com o 'uai' perdido do meu vocabulário.

É muito bom voltar pra casa, é muito bom sentir que ainda se tem um cantinho reservado no coração invisível de um lugar que já foi seu.
Acho que agora entendo quando alguém pergunta de onde a gente é.
Um dia questionei: como assim o lugar é dono da gente? Que se sabe são as pessoas que compram e possuem as terras e lugares, não o contrário...
Mas agora eu sei. A gente só é mesmo feliz quando possui aquilo que já nos possuiu primeiro, e não há preço que pague o pertencer.

D'Oncosô? Sô di Minas, uai!


Sophia Compeagá









"mineiro tem um quê de passageiro, tem um tudo de inteiro e um certo charme pra escrever..."



Aos leitores, um beijo e um queijo, com carinho! =)

13 fevereiro 2010

identidade

afirmou para si mesma uma porção de vezes: eu sou, eu sou! como se assim delimitasse uma linha imaginária em torno dela definindo o que era ela e o que não era.
difícil ser alguma coisa quando se quer ser tudo. ser tudo é como não ser nada.
a gente começa a ser quando olha pra fora e reconhece a diferença.
descobriu o outro, fez nascer a si. quando passou a negar, passou a existir.

sophia compeagá