22 setembro 2009

Desconhecidos íntimos

Amo Clarice, amo a simplicidade com que escreve que como ela mesma diz é uma simplicidade conquistada através de muito trabalho.
Seu jeito de escrever, que ao mesmo tempo questiona a própria linguagem, nos convida a fazer os mesmos questionamentos e aos poucos nos vai introduzindo na leitura como se nós mesmos a tivéssemos produzido.
Às vezes ler Clarice é quase terapêutico. Recorro a ela quando não compreendo algumas coisas, como quando algum intruso e desconhecido sentimento me invade e não consigo compreendê-lo, quando faltam-me os insights.
Existem mistérios que teimam em seguir sendo mistérios. Difícil pra mim que sempre quero resposta pra tudo.
Às vezes a resposta é o próprio silêncio. E frequentemente a resposta é a própria pergunta, sem o ponto de interrogação no final.






"Estou desorganizada {…}
É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira que vivo.
{…}Se tiver coragem, eu me deixarei continuar perdida. Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo. Quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação. Como é que se explica que o meu maior medo seja exatamente em relação: a ser? e no entanto não há outro caminho. Como se explica que o meu maior medo seja exatamente o de ir vivendo o que for sendo? como é que se explica que eu não tolere ver, só porque a vida não é o que eu pensava e sim outra como se antes eu tivesse sabido o que era! Por que é que ver é uma tal desorganização?”
(Clarice Lispector - 'A Paixão Segundo G.H.')

13 setembro 2009

Mais do mesmo

Tinha dado um tempo. Tinha desistido de insistir em falar, estudar, tentar entender, me questionar, provocar, me intrigar com a morte e tudo que a rodeia: perdas, luto, sofrimento, superações e principalmente vida! Vãs tentativas...
Tinha decidido que não era um assunto que me interess
ava realmente, mas que era antes uma intimidade 'herdada' com relação ao tema.
Aprendi com meu pai a respeitar a morte, a estar consciente dela, a falar livremente sobre ela, e que a morte dói. Graças à Deus nunca m
e obrigaram a ser forte, a ignorar qualquer perda, a tocar em frente quando o mundo desabava. As pessoas mais importantes da minha vida, aquelas com quem eu contei, quando precisei se doeram comigo, choraram comigo e me ajudaram a reconstruir respeitando meu ritmo.
Por estas e outras razões, o tema da morte sempre me foi muito presente, e interessante. Por um tempo achei que fosse uma questão
mal elaborada justificando a insistência e curiosidade. Talvez tenha sido, mas já não é mais.
De qualquer forma não adianta fingir desinteresse se a coisa lateja.
O que acontece é que novamente me vi diante dessas questões, num contexto mais formal, mas ainda assim diante, defronte, sem me deixar proteger pelo ilusório escudo da teoria, ou do jaleco branco.
Acredito que hoje esteja mais madura pra lidar com isso. Mas minha confiança vem mais da humildade e simplicidade conquistadas do q
ue do conhecimento adquirido. Afinal, nunca se está totalmente preparado pra enfrentar tais coisas, assim como o sol, a morte nos impede de olhá-la fixamente e decifrar sua beleza. Sim, beleza...

Sophia Compeagá